O amor nasce nú
À paixão, a melhor roupa
À paixão, a melhor roupa
O bom da paixão é interpretar o personagem idealizado de si mesmo e ser observado pelo outro como tal, veste-se a melhor roupa
Assim, durante o tempo de apaixonamento, o Eu-Perfeito existe para além da nossa própria imaginação
Se ver desta maneira, ainda que aos olhos do outro, faz com que a idealização pareça mais real, dá tangibilidade ao simulacro, ao personagem sublime que fazemos de nós mesmos e a reforça o desejo utópico de vivê-lo em plenitude
O filtro das redes sociais aqui se assemelha ao filtro da paixão: adiciona um layer entre o Eu e o Outro, suaviza imperfeições, aumenta qualidades, acrescenta tons bonitos, dá luz
Existem pessoas que sentem a necessidade de estar sempre apaixonadas e, sob o falso pretexto de que têm muito amor para dar, escondem a fragilidade e a dificuldade de verem-se e serem vistas nuas, defeituosas, incompletas, imperfeitas, sujas, imorais, falhas
Nesse sentido, ver a paixão acabar é como um luto no qual o Eu idealizado morre aos poucos, agoniza em praça pública aos olhos de atentos espectadores, para que um Eu mais praticável apareça, tanto aos olhos do Outro, quanto aos olhos de si mesmo
Se, depois dessa tempestade suave-coisa-nenhuma, ainda houver vida, é porque o amor encontrou uma pequena fresta (de tempo e de espaço) para existir em meio à dor e a beleza de ser o que é