Escrevi cartas de um amor verdadeiro e, por covardia, enderecei-as errado. Os destinatários responderam com reciprocidade a um amor que não era deles. E eu vivo esse erro como se fosse verdade.
Mas o bem da verdade é que nem sei se enviei essas cartas. E nem sei se foram recíprocas. E nem sei se as enderecei errado. Ou se crio tudo isso na minha cabeça por não suportar o peso do amor que já tenho.
Ou se tenho lapsos de sanidade em que vislumbro o meu amor verdadeiro e posso escrever poucas palavras lúcidas de alguma loucura sobre meu arrependimento, e a minha covardia, e o meu erro, e a minha ignorância em não saber endereçar cartas. E vivo essa verdade como se fosse um erro.
Eu nem sei escrever.
Dentro do envelope coloco uma folha rabiscada, como aquela que quis dar ao meu pai como prova de amor, ou melhor, como pedido de amor. Meu pai não foi buscar minha carta e eu decidi dá-la a outro. Até poderia ter tentado novamente. Em uma outra ocasião, talvez. Mas não. Desde então, eu compulsivamente erro endereços.
Alguém que aprenda a ler mapas e a escrever cartas comigo, essa caminhada me parece um bom destino